Repete-se na Avenida Fernando Correa a célebre cerimônia de iniciação dos calouros universitários.
Homens e mulheres jovens, lambuzados de "sei lá o quê", catando moedas entre os veículos, arriscando-se em plena tarde-noite desta terça feira.
Procurei nos alfarrábios explicação para tão bizarra demonstração de subserviência dos novos universitários, vejam o que encontrei:
Para Zuin, os primeiros trotes têm como marca a soberba intelectual, que permanece nos veteranos até hoje. Este se vê como o portador da formação cultural do novo aluno, o indivíduo civilizado que vai domesticar os calouros e ensiná-los a conviver no meio acadêmico, do qual os mais experientes se posicionam como guardiões.
Zuin, que é autor do livro "O Trote na Universidade: Passagens de um Rito de Iniciação", explica que esta postura dos veteranos têm raízes em uma outra relação complicada -- a convivência entre professor e aluno.
Este componente masoquista explica, de uma certa maneira, o comportamento dos calouros em relação aos veteranos.
Embora sofram com a humilhação -- e, em alguns casos, com as agressões - alguns alunos se sentem "premiados" por fazer parte daquele grupo.
Satisfeitos, estes passam a planejar o próximo trote, quando assumirão a posição de veteranos, aqueles que são responsáveis por causar o sofrimento nos mais novos -- com um forte elemento sádico.
"Alguns calouros querem ser trotados de maneira violenta. Senão, para eles, não significaria ser identificado como alguém que entrou na universidade", acrescenta.
Frequentemente, este sadomasoquismo se estende aos pais dos alunos, que vêem o trote como marca de status, que diferencia os "capacitados" dos demais integrantes da sociedade.
"É muito comum ouvir de pais de alunos que fizeram pouco com o filho, que ele próprio faria muito mais. Isso acontece porque ele não pode voltar para casa sem portar sinais que o identifiquem como alguém que entrou na universidade", diz Zuin.
A respeito da famigerada cerimônia disse lá em 2005:
Faltou convidar os pais dos jovens seviciados, bem como o reitor da universidade para testemunharem o que chamam de rito de passagem.
Mas tudo isso não importa. Afinal os sacrificados de agora serão os sacrificadores do futuro, quando, lá, serão considerados veteranos e tudo se repetirá, para honra e glória do sistema.
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*Léo Gonsaga Medeiros é cidadão cuiabano
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