Políticos, antigos comunistas, socialistas, ateus, carbonários, macumbeiros, umbandistas, pais de santo, cambonos, pajés, ex-comungados, exorcistas e muitos outros membros fanáticos de seitas e credos aqui da Botocundia, estão debandando em massa e associando-se a grupos religiosos tementes a um só Senhor, os “evangélicos”, de variadas tendências, cultores de uma comunicação direta e contundente com o misticismo e a desinformação.
A confusão já começa a influenciar os dirigentes eleitos democraticamente pelo povo, que estão transformando atos oficiais da administração pública em sessão de pregação da Palavra de Deus, como se o evento fosse uma extensão de sua crença particular, em desrespeito e desprestígio as demais manifestações de fé.
Até os “cabos eleitorais” dos velhos currais da periferia sabem que religião e política nunca deram mistura homogênea.
As duas entidades, quando associadas, não favorecem o bom comportamento coletivo e o correto exercício do poder.
Um professor de história, aqui da Botocundia, me disse um dia:
“- A religião alimenta-se do fervor, da apaixonada fé no sobrenatural, da crença em dogmas imutáveis e da obediência a hierarquias que não decorrem da soberania popular.”
Pois é, o fervor irracional sempre foi combustível do fanatismo, e disso a História está recheada de exemplos trágicos, vêm desde as guerras religiosas que dilaceraram a Europa, até os atualíssimos conflitos e os desvarios do Talibã afegão e dos Aiatolás iranianos.
O mesmo professor antes invocado, mestre de jovens, também me recomendou:
“- Ao revés dos procedimentos irracionais do fervor místico, a política democrática deve alicerçar-se, o quanto possível, no exercício da razão, no respeito à divergência, no culto à tolerância entre as facções, e numa fraternidade geralmente inconciliável com as paixões religiosas.”
O interessante é que a igreja dita “católica”, mãe do “mst” está hoje reduzida a proporções paroquiais, por ser manifesta a fratura interna decorrente do advento dos “progressistas”, que dividiram a hierarquia da Igreja.
Há muito tempo não vejo padres abençoando placas de obras, rezando em posse de políticos ou oficiando a palavra em cerimônias de transmissão de poder.
Ao contrário, quem está alcançando cada vez maiores fatias de apoio entre os políticos são os “evangélicos” de variadas tendências, diga-se de passagem, eficientíssimas na caça ao dízimo.
Do patrocínio de tais confissões têm nascido inesperadas vocações políticas – pastores que se transformam em vereadores e deputados, amparados em fartas votações; se vê também, vereadores, deputados e prefeitos transformando-se em pastores, amparados em fartas doações.
Prevejo que em pouco tempo a casa do Alcaide, que já começa a cheirar mistério e misticismo, vai ostentar em sua fachada horário reservado para a prática do exorcismo dos endemoniados.
Aqui, na Botocundia, os políticos de um modo geral perderam a virgindade, comprometidos pela demagogia, pelas promessas descumpridas, pelo clientelismo vulgar, pelo mau uso dos recursos públicos, pelo eventual recurso à contravenção e aos contraventores.
É preciso ficar alerta, ainda é tempo, caso contrário o desencanto popular vai tornar-se maiúsculo.
Lamentável que, por falta de competência, esteja em andamento e se inicie agora um intenso apelo às muletas do misticismo e da religião, por parte de todos os partidos.
No mais, com licença de vossas excelências, vou tomar um banho de sal grosso, acender um incenso para afastar o “mau olhado” e regar meu jardim de arrudas.
*Kamarada Mederovsk é um ¨cerumano¨ como outro qualquer
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