Cupinosof humanus 03/06/2005

Eles começaram a reproduzir-se numa primavera longínqua, atraídos pela luz das moedas da exportação de madeira e a exploração criminosa da mata.

Cupins alados, espalharam-se pelo Mato Grosso e -- como a colônia aumentou -- eles começaram a aparecer nos orgãos públicos em busca do seu alimento preferido: a madeira nobre.

Para combater a praga, as melhores alternativas são a aplicação de iscas por especialistas, alguns com residência na Polícia Federal, não obrigatoriamente biólogos.

A infestação, ao contrário de seus semelhantes animais, não pode ser resolvida com água boricada.

Sabe-se que o cupim é uma praga difícil de combater, mas nada que resista a uma boa dose de honestina 100mg, última invenção da medicina quântica.

Não é muito fácil saber onde está a colônia, mas os cupins deixam pistas da destruição.

Eles atacam as florestas de dentro para fora, deixam rastros de fezes da corrupção, cujo mau odor pode ser facilmente identificado; diferenciam-se da broca, outro inseto que também deve ser eliminado.

A diferença da broca para o cupim é que o pó das fezes da primeira é bem fino, mais sutil - ensina o famoso biólogo Sherlock.

As infestações podem vir de cima para baixo.

As colônias costumam se instalar entre poderosos chefetes, indicados pela ralé da politicalha em troca de futuros favores ou em pagamento de benefícios recebidos.

Não adianta culpar o vizinho, as ONGs, o governo americano pela destruição das florestas.

É um problema de todo o condomínio.

Os insetos se instalam, descem pelos dutos, pelas tubulações e perfuram o que for necessário para procurar madeira.

Na luta contra os cupins, há basicamente dois métodos de controle, diferentes dos usados para outros insetos.

A arma mais recente tem como alvo principal a rainha da colônia de cupins.

O método está sendo desenvolvido pelo pesquisador Decentis, PHD em “maracutaias brasilienses”. Ele não revela a fórmula da isca, mas garante que não se trata de veneno. Não tem cheiro, não oferece riscos à saúde de pessoas honestas, de animais ou de plantas.

A aplicação do produto está dando bons resultados, particularmente quando testado recentemente em Mato Grosso.

Ele atua como um anticoncepcional a sanha corrupcional, não deve ser aplicado em doses moderadas e precisa de um bom tempo para que a colônia entre em declínio e morra de inanição.

A técnica convencional, com produtos químicos artesanais e soluções caseiras é totalmente ineficaz, não cria nenhuma barreira contra o inseto “cupinosof humanus”.

Depois da descupinização, recomenda o cientista a manutenção do tratamento por anos a fio, para evitar infestação.

Nova aplicação deverá ser feita a qualquer tempo. Recomenda–se especial atenção sobre a probabilidade de um grande ataque quando da realização das próximas eleições. Assim, o povo deve ser educado sobre os métodos contraceptivos e a inoculação de honestina nos futuros candidatos.

Além do ninho primário aqui na terá de Rondon, descoberto há pouco, existirão outros, cada um com o seu rei e a sua rainha, formando as colônias independentes.

Configurado o quadro da virótica teia, o combate deverá ser incessante e nada deverá impedir o desmonte da canalha, nem pensar em CPI, por esta já ter demonstrado ineficácia em casos análogos.

O cientista Prof. Decentis, ainda não acredita na eficácia de métodos que dizem acabar definitivamente com os “cupinosof humanus”.

Somente o tempo, a educação do povo e governantes honestos trarão os remédios para a cura, diz o afamado mestre.

Na época da revoada, especialmente próximo aos pleitos eleitorais, uma forma de tentar diminuir a infestação é identificar os candidatos avessos a “honestina”, o que pode ser feito analisando seus programas de governo, suas promessas, seus discursos, suas atitudes hipócritas e demagógicas.

Configurado o quadro cupinófilo, chamem o Dr. Prof. Decentis.

Em casos extremos de resistência à “honestina”, nada melhor do que umas bordunas de maçaranduba ou baraúna, que são as madeiras mais resistentes à ação dos insetos.

Se nada funcionar, se o Currupira não der certo, se falhar o antigo fármaco “vergonhatina na cara” só restará o remédio extremo do bom e velho “paredón”.

Mas, aí será um pouco tarde para a civilização.

Tenho dito.

Léo Medeiros

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