Venalis da Silva, o vereador 08/06/2005

O menino VENALIS DA SILVA, já de pequeno era sabido como o quê.

Sabia jogar rouba-monte, sabia malocar bola de gude, sabia colar nas provas (até nas orais), e sabia adulterar os boletins, entre outras coisas.

Um dia, após perceber um desfalque de vinte e duas passoquinhas, em sua venda, ali no Beco Quente, seu Fefê ruminou:

-- É..., esse menino Venalis, tem o dom.

Dona Cotinha, a professora de matemática, ao constatar que o maroto -- que nunca ia às aulas -- conseguiu um 10 na prova, sem deixar o menor indício da cola, bradou:

-- É..., esse rapazote Venalis tem o dom.

Os anos foram passando, os ânus foram doendo e todos os enrabados por Venalis, faziam coro na cidade:

-- É... esse homem tem o dom.

E de tanto ouvir tal frase, Venalis resolveu aproveitar o seu ¨dom¨ e entrou pra política.

Numa eleição difícil, concorreu com alguns caciques locais e ¨logrou êxito¨, praticando todo tipo de falcatrua, mas, por ter o ¨dom¨ nenhum rastro deixou à vista da justiça.

Deu nó no partido, nos correligionários, nas gráficas, nos cabos eleitorais, nos parentes, no posto de gasolina, no gerente do banco, na imprensa escrita e televisada, nos adversários; só não deu mais nó, por falta de corda.

Tomou posse. Fez festa. Não pagou o açougue, o churrasqueiro, o chops, a banda, o aluguel da chácra, o ônibus alugados...

A todos dizia:

-- Devo, não nego, pago quando puder!

E quem votou nele, entrou pelo cano.

Quem não votou também.

Usava pouco a tribuna, preferia a trapaça solerte dos corredores escuros e os conchavos ao pédovido.

Aproximou-se dos antigos adversários, negociava facilidades, tornou-se essencial à manutenção da ¨máquina¨.

Esqueceu-se do povo, ora o povo.

¨Cuido do meu grupo, quem não está comigo está contra mim¨, era o seu mote preferido.

Virou figura obrigatória nas rodas sociais, elegantes, ¨a socialyte¨.

Era convidado para paraninfo de formaturas, mandava representante.

Então, um dia, uma Luz iluminou o povo, deu-lhes sabedoria e discernimento pra distinguir o bom do mau, o justo do injusto, o ladrão do honesto.

Reconheceu, o povo, que o ¨dom¨ do Venalis, era o dom da prevaricação.

Caiu em desgraça, foi visto por algum tempo expiando seus pecados e ¨catando coquinho¨ às margens da Br 163, próximo do Pará.

Não deixou descendentes, o ¨dom¨ foi extinto pela ¨força¨ do bem.

O povo, agora, passada a provação, aprendeu a votar.

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