Nos últimos meses tenho prestado serviços à Prefeitura Municipal da Botocúndia.
Numa lista de outras ilustres personalidades, fui escolhido, talvez, por desistência de outros inicialmente consultados; o fato é, que estou exercendo as funções de Diretor do Trânsito Botocundiano, desde novembro do ano passado.
A experiência tem sido extremamente interessante, tenho no decorrer desse tempo, conhecido pessoas extraordinárias e também pessoas ordinárias no sentido mais puro das palavras.
Ingressei, e, agora tenho clara a situação, no mundo conflituoso da politicagem rastaquera, das fofocas palacianas, dos interesses nem sempre dedicados a atender as necessidades do povo, matricularam-me a fórceps, na escola de “engolidor de sapos”, felizmente, tenho sido reprovado em todas as matérias.
Nunca estive habituado ao jogo tático provinciano que, regra geral, só cuida de imagem eleitoral e marketing - sem planos de longo prazo, sem estratégia, sem luta pela hegemonia cultural, sem visão prospectiva, até mesmo sem militância organizada -, nossa “direita” não pensa senão em aproveitar-se dos momentos de sorte e minar a reputação do adversário sem precisar fazer política de verdade.
Vejo uma facção política conformada, construindo muros sem alicerce, aliando-se a antigos adversários; a visão de futuro restringe-se a “ganhar a próxima eleição”.
Desaparecido o antigo líder, os pequenos caciques, ainda lutam pelo cocar do chefe.
Nenhum deles tem cacife para resistir a um esforço conjugado da esquerda para destruí-los, coisa que até agora ela só não fez porque não precisou ou pela sua incompetência na Botocúndia.
O motivo dessa fraqueza congênita é mais que evidente: esses políticos e as forças que os apóiam só têm eleitores, não militantes.
Eleitor é o sujeito que dá uma forcinha ao político, durante alguns segundos, de dois em dois anos.
Militante é aquele que luta pelos objetivos do seu partido 24 horas por dia, que se adestra para isso e se imbui de um corpo de solidariedade grupal pelos quais dá a vida e oferece a morte.
A esquerda botocundiana, apesar das facções históricas, faz política nas escolas, nas igrejas, nos lares, nas instituições de cultura e dentro das redações.
Faz política até em consultórios de psicologia clínica e aconselhamento matrimonial, injetando fundo, os seus símbolos e valores nas almas fragilizadas.
A “direita” botocundiana, a situação, melhor assim, faz política em editoriais de jornal, em manobras parlamentares e em discursos eleitorais.
A “direita” se adapta como pode, tentando defender uns votos aqui, um carguinho acolá. Isso não é disputa. É derrota mal camuflada.
Mas, voltando ao café pequeno, o exercício do “cargo de confiança”, na Botocundia City, deve seguir regras não escritas, talvez o Alcaide não saiba, o que duvido muito, assim, a subserviência deve ser conjugada à “vontade do chefe”, mesmo se contrariar as convicções mais racionais, a técnica, a lógica e até ao bom senso.
O “cargo de confiança” ideal é o “cumpanhêro”, o zumbi mental, o “sim senhor”, ¨o suicida ético¨.
Vejam só, ainda ontem, pela defesa do emprego radares, os famosos pardais, fui admoestado, na presença de um engenheiro prestador de serviços e de um colega Diretor, portanto publicamente, de modo desavergonhado, sem pudores ou ruborização, pelo meu “chefe”.
Resumindo:
“...pois é, você tem que defender a posição do Alcaide, é ele que te paga o salário... se o Alcaide é contra a instalação dos radares, é isso que deve ser defendido na imprensa... blá... blá... blá...!!!”
Surpreendido pelo golpe baixo, repliquei, até, educadamente:
“... quem me paga o salário é o povo e a instalação de sistemas de controle de velocidade, radares, etc, ... reduz a mortalidade no trânsito em mais de cinqüenta por cento, provado por dados estatísticos nas cidades do mundo todo...”
“... além do mais, bons governos salvam vidas ; maus governos contribuem para a morte de seus cidadãos.”
Não acredito que o Prefeito tenha recomendado tal conduta aos seus Secretários; não acredito que Nosso Guia, nosso “Bourgomestre”, nosso “Mayor”, nosso “ Sindato”, nosso “Alcade”, sufragado universalmente, numa peleja memorável seja destituído de coragem; não acredito no desfibramento da alma do “Galinho”.
Mas, eu, que não fui criado guacho, graças ao Deus Soberano, aprendi a não ser paroquial, perdido, indeciso, obtuso, muito menos pusilânime ; assim, me perdoem os acólitos da tibieza, vou continuar na trincheira, bivacando no cerrado da luta.
Estarei sempre exercendo o bom combate, não peito a peito e sim ombro a ombro.
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