BELOS ENTORNOS NO ESCRITÓRIO
Primeiro, apresento a contextura dos fatos.
Estamos com temperaturas de quase um dígito.
Na semana passada, estamos vivendo tardes de 30ºC, naquilo que chamamos de calor senegalês. Geralmente a primeira mudança de temperatura na estação causa nas pessoas uma euforia semelhante a dos druídas na festa dos solstícios.
Mas, aqui em Cuiabá, a friagem dura pouco e ao menor sinal de que o inverno está perdendo sua força a cidade é invadida por alcinhas, bermudas e pessoas suadas nas ruas.
Então, lá estava eu no escritório de fino advogado, amigo meu, contemplando meu próprio talento para composição de interiores quando sou surpreendido pela oferta de um café por ninguém menos que um umbigo.
Explico, eu estava sentado, e na linha dos meus olhos estava um umbigo emoldurado por babadinhos de um tecido de algodão bordado com flores minúsculas e uma fofa tatuagem de borboleta.
Enquanto pronunciava um protocolar “não obrigado” pude analisar o entorno do umbigo.
Um belo entorno devo dizer, como em geral são belos os entornos em seus 20 aninhos: um belo corpo mignon, cabelos loiros, repicados na altura dos ombros, e um par de óculos que a Marília Gabriela usaria, e a borboleta parecendo querer alçar vôo.
A menina estava usando uma blusinha branca tipo corpete, com alças finas amarradas em laçarotes sobre os ombros e uma calça preta tipo corsário com a cintura numa linha que deve ter exigido uma depilação específica.
Quando ela se virou para sair ainda fui brindado com uma bela fatia de calcinha de lycra bege saindo pelo cós da calça.
Meu amigo, o advogado, que entrava na sala, percebendo meu perscrutador olhar, acho eu que um pouco ruborizado, me lança um sorriso cúmplice e me diz: é minha nova estagiária.
É, o escritório vai indo muito bem.
Conversamos mais de uma hora sobre assuntos variados, trocamos idéias sobre a crise política e as perspectivas futuras junto a OAB/MT.
Quando começo a me despedir ele confessa seu desconforto com a exposição do “umbigo emoldurado” e solicita para conversar com as estagiárias do escritório sobre o “poder dos esteriótipos”.
Agendamos.
Mas aqui já posso adiantar as diretrizes básicas de meu próprio manual
VENCENDO NO MUNDO CORPORATIVO SEM USAR O CORPO
1) REGRA UNIVERSAL - Salvo se você trabalhar no ramo do entretenimento dançante, duas coisas são proibidas em qualquer ambiente de trabalho:
COXAS E UMBIGO
Não tem negociação, não adianta disfarçar com uma transparência, nem com uma fenda.
Não pode mostrar nem delinear.
Se a blusa marcar a cavidade do umbigo, ela é muito justa para o ambiente profissional.
Se a calça ou saia agarrar nas coxas, é inadequada.
Aqui vale outro teste, se o decote estiver mais próximo do umbigo que do queixo, também não vai dar certo.
2) REGRA DOS “ÓRIOS” – Ou seja, se você trabalha em escritórios ou consultórios (ou em qualquer outro ambiente tão formal quanto), são proibidos: OMBROS E DEDOS DOS PÉS.
Esqueça coisas como regata, frente-única, tomara-que-caia, blusas de um ombro só.
Também esqueça sandálias decotadas e tamancos, pouco importa se você usa com ou sem meias.
O máximo admissível são os sapatos do tipo “peep toe”, aqueles com o bico recortado, e mesmo assim que mostrem apenas os dedos polegar e indicador.
Confiem, parece exagero, mas a diferença é impressionante.
3) REGRA DOS 10% - Salvo sua roupa íntima, mantenha longe do trabalho todo e qualquer tecido que tenha mais de 10% de elastano, lycra, ou afins, em sua composição. Ou em outras palavras, não use nada que tenha no corpo uma forma maior da que tem quando está na gaveta. Exceção única: se você trabalhar, como professora, em uma academia de ginástica;
4) REGRA DE OURO – Bom senso: ou para os não iniciados a máxima que meu pai usava quando eu era criança: se você ficar em dúvida, é porque não deve.
É claro que todas as regras existem para serem quebradas e excepcionadas. Mas isso requer um domínio superior das técnicas e conceitos da comunicação visual, ou então a orientação de alguém que tenha esse conhecimento.
Dentro dessas regras é possível expressar livremente seu gosto e personalidade, mas com uma margem de segurança confiável.
Ah, e depois do trabalho?
Bom, daí as regras do jogo são outras...
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