O meu Natal comunista 17/12/2005

Com os cumprimentos a todos os amigos que ainda crêem na Liberdade.

Desde que vivo com uma militante comunista, tudo mudou na minha vida.

Em nossa casa, respira-se ideologia, come-se dialética, bebe-se dedicação à Causa.

Mas não é por isso que deixamos de ter Natal.

Apenas recusamos a celebração consumista e burguesa que só serve para encher o bolso do explorador capitalista.

Sim: o nosso Natal é ideologicamente puro e decididamente Socialista!

Começando pelo presépio. Rodeado por um carpinteiro de ar humilde (símbolo das heróicas virtudes do Proletariado) e por uma robusta camponesa emessetina (representando a gloriosa Revolução) está o menino Kamarada Jesus, de punho direito bem erguido.

Ao lado, lá estão dois animais de ar estúpido: as bestas do capitalismo e do imperialismo. À porta da caverna de musgo artificial, três homens sábios envolvidos em seus turbantes e suas ¨khalasnikov¨ a tiracolo.

Os bonecos são um bocadito mal-acabadões, mas as suas fisionomias dignas e corajosas não enganam: trata-se dos camaradas Engels, Marx e Lenine.

Só ainda não percebi uma coisa: que prendas trarão eles? Ouro, incenso e mirra não será por certo; para que quereria um recém-nascido essa tralha burguesa?

Mesmo ao lado, brilha gloriosa a nossa árvore de Natal. A minha companheira e os meninos decoraram-na sozinhos: recortando fotografias do jornal, fizeram uns bonecos com as caras do Zé Dirceu, do Lulla, do Gusshiquem, do Sarney, do Valério, do Borhausen, do Delúbio, do Genoíno.

Depois, penduraram-nos a todos pelos pescoços. Mas eu também contribuí: comprei três conjuntos de luzinhas e juntei todas as lâmpadas vermelhas numa só fiada.

Nem nos tempos áureos da saudosa União Soviética houve Natal mais Vermelho. Ficou linda de morrer, a nossa árvore!

Claro está que, aqui em casa, as crianças também têm direito a listas com pedido. Mas elas renegam o materialismo interesseiro desta sociedade caduca e assumem uma pureza ideológica total - altruísmo de louvar; sempre que leio os seus pedidos ingénuos, quase me vêm as lágrimas aos olhos.

Então, quê pediram este ano os nossos pequenos Pioneiros? Simples sonhos de crianças politicamente ativas: o Socialismo, a Paz no Mundo, a salvação da Mãe Gaia, o impeachment de George Bush.

Os presentes chegam a nossa casa através dos bons ofícios do Pequeno Ancião Vermelho; um velhinho barbudo, alquebrado por anos e anos de exploração, que se desloca num veículo ecológico, a reboque de um coletivo de renas.

Enfim, melhores dias virão: todos sabem que a chegada do Socialismo é inevitável.

Até lá:

Viva o Natal, KAMARADAS!

E ABAIXO O BAFO DE VODCA DO ANCIÃO BARBUDO!!!

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