Sou do tempo em que os padres andavam de batina e rezavam ou diziam a missa em latim. Sem nenhum saudosismo perverso, aqui em Cuiabá, sempre gostei do Frei Quirino, tradicionalista, autêntico. Assim como o Papa, chegou a ser esfaqueado, por um dilacerado de alma e, por pouco, não visitou São Pedro mais cedo do que devia. Foi salvo com sangue doado por policiais militares.
Com todo respeito ao Padre Firmo, também de admirável comunhão, o pranteado e esquecido Frei Quirino era o homem da paróquia, não freqüentava os salões burgueses, os grandes eventos midiáticos. Preferia as almas dos simples e dos humildes; era o confessor dos soldados da PM e do EB.
Nos seus últimos tempos de pregador do Evangelho, dos bons costumes e da moral ilibada, esteve numa espécie de exílio, servindo em Cangas, uma pequena comunidade perto de Poconé. Felizes os que com ele conviveram seus derradeiros dias de franciscano. Sentia-se feliz com seu rebanho.
De tempos em tempos, chamado, vinha a Cuiabá rezar para a tropa da Polícia e do Exército -- era o nosso capelão honorário.
Ainda me lembro de seu sotaque germânico, do amarrotado hábito marrom, seu rosário de madeira, suas mãos enormes e de suas sandálias puídas, nenhum anel ou cruz de ouro, nenhuma vaidade abrigava o enorme coração.
Lembro-me que, no seu enterro a corneta tocou ¨silêncio¨ e nossa despedida, foi marcada por uma simples continência, o cumprimento respeitoso do militar.
Quem reza hoje, pelos e com os soldados?
Quem substituirá o Frei Quirino?
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